E viva a mini saia! Ou porque fiquei tão indignada com a expulsão da aluna da Uniban.

Até onde sei vivemos num país livre. E onde atrizes de novela, mulheres fruta e madrinhas de escola de samba aparecem no horário nobre da TV em trajes sumários sem que isto desperte a ira dos telespectadores. Não vou entrar aqui no julgamento do que deveria ou não passar na TV neste ou naquele horário, pois esta não é a pauta deste post.
Neste post vim falar sobre o preconceito, a discriminação e sobre como nós mulheres, de vítimas passamos a rés.
Aconteceu algo que não deveria ter acontecido e o caso só vem piorando: a aluna Geisy, da Uniban, foi expulsa daquela instituição de ensino (ensino?) por usar um vestido supostamente curto demais.
Eu não iria falar sobre o assunto, embora tenha ficado engasgada de revolta ao ver os vídeos do tumulto no YouTube. Mas depois que vi a notícia em pleno Jornal Nacional (adoro a Fátima e o Bonner!), não poderia deixar de comentar. Se o vestido era curto, "indecente" ou de mau gosto, não vem ao caso.
Pessoa alguma tem o direito de gritar para a outra "p***, p***" por se sentir incomodada com o tamanho da saia de outra pessoa. O caso ficou ainda mais feio quando um monte de acéfalos se juntaram para ofender a dona do vestido e a direção (direção?) daquela faculdade não tomou a providência de mandar a horda enfurecida calar a boca e voltar para suas salas de aula.
Pior ainda a tal instituição de ensino (ensino???) legitimar a agressão que esta moça sofreu ao expulsá-la.
Li em vários lugares meninas achincalhando a tal moça, falando que ela era culpada de ter sido chamada de p***, que ela tinha "pedido" por aquilo. Não conheço Geisy, não estava lá, portanto não posso opinar sobre a conduta dela.
No entanto sei que NÃO IMPORTA a roupa que uma mulher veste, ela não deve ser julgada e muito menos punida por causa disto. Este triste episódio me irrita muito pois não são poucas as pessoas (inclusive mulheres) que sempre culpam a vítima ao invés do agressor: a mulher que apanhou do marido "merecia", a moça que foi estuprada "estava com uma roupa muito chamativa". Este machismo imbecil tem que acabar!
Não estou dizendo com isto que todos nós (homens e mulheres) devamos ignorar as regras da boa convivência. É de bom tom usar uma roupa adequada ao compromisso (ir de micro shortinho na entrevista de emprego certamente não pegará bem, nem de camiseta regata se você for homem e estiver indo conhecer sua sogra), mas não cabe a pessoa alguma se colocar como juíz do outro, especialmente se for para agredir a outra pessoa.
Para atender no consultório eu não uso vestidos ou saias, especialmente quando atendo pacientes do sexo masculino, mas esta é uma escolha minha, pois assim fico mais confortável ao atuar como psicóloga. Da mesma forma lecionei por 10 anos para a graduação e pós graduação e procurava me vestir de forma mais discreta no meu local de trabalho, para minimizar mal entendidos e insinuações incovenientes de algum aluno mais afoito.
Mas se vou no shopping uso sim mini saia (ontem saí de mini e saltão) e não me acho menos séria por causa disto.
Meu caráter ou minha conduta não podem ser julgadas por uma peça de roupa. Além do mais, a tal garota agredida estava lá como aluna, não como professora. Aquilo não era o trabalho dela (o vestido seria inadequado para trabalhar, por exemplo, como assistente social num presídio masculino) e ela tinha todo o direito de ir com uma roupa sexy, se assim ela quisesse.
Mas aquele lugar não é um presídio masculino de segurança máxima e ela não estava lá trabalhando. Uma faculdade deveria ser um local seguro. De pessoas civilizadas. Que aceitam o próximo por mais "estranha" ou "errada" possa ser a aparência de alguém.
Fiz Psicologia na Federal aqui de Santa Catarina. Entrei no curso em 1990, com pouco mais de 16 anos. Conheci minha melhor amiga ainda na primeira fase, a Suzana e somos amigas até hoje (faz 20 anos ano que vem!) e ainda estes tempos demos risadas ao lembrarmos das roupas estapafúrdias que vestíamos para ir pra aula: short, camiseta, Havaianas e biquíni por baixo da roupa (as duas totalmente molambentas de shortinho e ninguém ligava!). Ainda bem que nosso estilo se refinou muito nestes 20 anos, mas a gente ia pra UFSC assim porque éramos adolescentes, não tinha ar condicionado nas salas e nos intervalos entre as aulas íamos para a praia estudar.
Acho que se nós estudássemos com aquele povo preconceituoso seríamos expulsas também! Ainda bem que fiz faculdade há 20 anos. Naquela época não éramos tão caretas!
Estamos num país onde não é crime ir de biquíni minúsculo para a praia e ninguém é preso por sair de mini saias e decotes. Não usamos burca e somos conhecidos por sermos um povo amável, caloroso e gentil.
Seria a chegada do Talibã nas terras tupiniquins?